A situação em que estamos vivendo com o novo coronavírus pode limitar muitas atividades científicas, e já que não podemos nos deslocar de nossas casas, não há maneira de coletar dados em estudos de campo. E por isso precisamos efetivamente pensar em maneiras de amenizar a perda de produção científica em áreas não diretamente relacionadas a epidemiologia e saúde pública, as quais, esperançosamente, devem avançar de forma relevante nos próximos meses. Todas recomendações oficiais de nossos governantes e autoridades internacionais nos propõe a interromper interações pessoais e nos isolarmos em nossas casas como uma medida de contenção da dispersão da virose. Com isso, é evidente que haverá uma desaceleração econômica e laboral. Nesse contexto, a população tenderá a reduzir substancialmente suas atividades em áreas urbanas, o que leva, por exemplo, a redução do uso de automóveis e a queima de combustíveis fósseis. Dados de satélites da Nasa tem apontado uma redução significativa de emissões de carbono na China, a qual diminuiu consideravelmente após as novas políticas de contenção de transmissão do patógeno. Aparentemente a redução nas concentrações de poluentes foi parcialmente devida à interrupção de atividades em fábricas, que foram temporariamente fechadas.

Indiretamente falando, todas as políticas de restrição que estão sendo adotadas, na maioria dos casos, estão reduzindo a produção de certos poluentes, principalmente em centros urbanos. Além da poluição atmosférica e de corpos de água, um reflexo esperado desse isolamento também afetará a produção de poluição sonora. Cidades desertas certamente serão mais silenciosas, principalmente porque haverá redução no tráfego e paralisação de atividades de construção em vias públicas. Se levarmos em conta que a poluição sonora, assim como outros tipos de poluentes produzidos pela população urbana afetam a fauna, podemos gerar a predição de que esse novo cenário de nossa sociedade permitirá que a biodiversidade mais sensível às ações antropogênicas possa aumentar a frequência de suas atividades em algumas partes das cidades, ou até mesmo recolonizar trechos particulares de áreas urbanas. Sendo assim, podemos esperar uma redução de ruído antrópico e aumento em biofonias em nossas cidades. Pensando nisso, a Fonotropica (coleção digital de sons da natureza da UFBA) está propondo uma iniciativa de ciência cidadã para tentar responder a seguinte questão: “Ouviremos melhor a biodiversidade de nossas janelas nesses dias de reclusão?”

Nosso time de pesquisadores está interessado em saber como flutuará as informações acústicas da paisagem ao longo e após esse processo de isolamento populacional. Ou seja, seria possível um aumento na complexidade acústica da paisagem urbana devido à um possível aumento da biodiversidade acusticamente ativa?

Para responder essa questão pedimos a você, caro cidadão ambientalista, que nos ajude a registrar os sons direto de vossas janelas e monitorar ativamente a atividade da biodiversidade durante esse período de reclusão a partir de suas casas. Se quiser participar dessa iniciativa basta ter uma janela em sua casa e um aparelho celular para realizar suas próprias gravações. Por favor, acesse as instruções abaixo.

INSTRUÇÕES PARA PARTICIPAR DO PROJETO “BIOACÚSTICA EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS”

Cada participante, geograficamente, representará uma unidade amostral em nosso estudo, e poderá contribuir o quanto puder. Para isso será necessário que nos informe a localização de sua janela e nos envie gravações (arquivos de áudios) no e-mail que será indicado abaixo. Cada janela receberá um número em nossa planilha e todos os arquivos de áudios enviados ao nosso servidor deverão conter o número de identificação da janela recebidos após o cadastro.

Como fazer o cadastro?

Acesse e preencha o formulário em: https://forms.gle/dSF8UtpsxC5gN6228

Após o preenchimento e envio do formulário, a Fonotropica entrará em contato para informar o número de sua janela. Sempre se refira aos seus áudios através do número de sua janela.

Como devo gravar meus áudios?

As gravações devem ser feitas utilizando aparelho de celular. Nós recomendamos o uso do aplicativo “Reporter” da Rode para Iphone e o RecForge II para IOs (estão disponíveis gratuitamente). Todas as gravações devem ser feitas no formato “wav”, pois não aceitaremos “mp3”. Ambos aplicativos recomendados habilitam gravações com a extensão “wav”, por favor, acertem o formato em configurações. No geral, vocês estarão realizando gravações de paisagens, por tanto é bom controlar a distância à possíveis ruídos contínuos para não saturar as gravações, o que também poderá ser controlado pelas configurações de níveis de intensidade ajustados no aplicativo. É necessário que durante as gravações não haja ruído de seus familiares, como conversas e outras fontes de barulho “interno” que confundam as informações acústicas dos registros. É de extrema importância que a posição do aparelho celular durante a gravação seja sempre a mesma e voltada para o lado externo à sua casa, por isso, ache um local que possibilite o encaixe do aparelho em sua janela durante a gravação, também evitando ruídos de manipulação. Após iniciar a gravação é recomendável que ninguém fique perto do celular, para evitar ruídos internos. Os áudios devem ter duração mínima de 5 minutos corridos (sem interrupção). Por isso, peça silêncio, acione a gravação e se afaste por cinco minutos até que o período se complete.

Quando posso gravar em minha janela?

Você pode nos enviar até 6 gravações por dia, as quais devem respeitar 6 períodos de 4 horas ao longo do dia (0h às 3h59min, 4h às 7h59min, 8h às 11h59min; 12h às 15h59min; 16h às 19h59min; 20h às 23h59min). Não é obrigatório gravar em todos os períodos ao longo do dia, essa é apenas uma indicação de como os áudios serão classificados temporalmente em nossas análises. O importante é saber que se você, em um dado dia, já fez uma gravação dentro de um desses períodos, então deverá esperar o próximo período para realizar mais uma, pois receberemos apenas um áudio por período/dia/janela. Da mesma forma, não há obrigatoriedade em realizar gravações todos os dias, embora elas sejam recomendadas e importantes para o projeto. Se você ficou um dia ou dois sem gravar, não importa, reinicie suas gravações imediatamente para poder contribuir com mais dados.

Posso gravar em meu quintal?

Sim, desde que o ponto de gravação seja o mesmo em toda a campanha.

E se meu animal de estimação fizer ruído durante as gravações?

Nosso foco está na fauna livre externa à sua residência, por tanto, evite ao máximo essa situação para que esse problema não prejudique nossas análises. Se houver ruído desse tipo, pedimos que uma nova gravação seja feita de modo a evitar o problema.

O que devo fazer com minhas gravações?

É possível enviar os arquivos semanalmente ou diariamente para o seguinte endereço de e-mail: fonotropica@gmail.com (dúvidas também poderão ser enviadas nesse endereço). Cada áudio deve conter no nome do arquivo a seguinte sequência de informações: [1] número da janela, [2] data da gravação (aaaa_mm_dd) e [3] horário da gravação (h_min). Tudo deve ser separado por _ (underline). Um exemplo seria: janela1_2020_03_19_8h_55min.wav (gravação realizada na janela 1, no dia 19 de março de 2020 às 8 horas e 55 minutos).

*Os pontos de amostragem somente receberão identificação pessoal em banco de dados público se os autores consentirem. Informe-nos se você prefere que suas contribuições sejam anônimas. Quaisquer publicações científicas futuras derivadas desta iniciativa reconhecerão as contribuições dos participantes.

Estamos aguardando os seus registros!

FONOTROPICA

Coordenadores do projeto: Lucas Rodriguez Forti & Hilton Japyassú

Programa de Pós-Graduação em Ecologia: Teoria, Aplicações e Valores